quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Inoculação de Stress

“O ataque aconteceu repentinamente. Os bandidos esperaram pela cobertura escura da noite e pelo sono para se aproximarem do corpo cansado do guerreiro antes de se esgueirarem maliciosamente para dentro do acampamento aonde ele descansava. Talvez tenha sido o breve cintilar do luar em suas laminas que alertaram o guerreiro da aproximação deles, ou o débil crepitar da grama seca sob seus passos, apesar do grande esforço pela descrição. Talvez até simplesmente suas sinistras intenções que dissoavam com a serenidade. Isso não importa agora. De alguma maneira, o guerreiro acordou, seus olhos semi-cerrados como um gato dormindo, sua mão agarrando a empunhadura de sua espada aonde ela descansava durante seu sono. Antes mesmo que ele tenha se movido, ele podia ver a batalha desdobrando-se antes com seus olhos da mente. Todos movimentos eram simples e resolutos em seus pensamentos. Então, como ele já havia feito milhares de vezes em seus treinamentos, ele saltou do chão onde descansava, rolando pela noite como uma onda do oceano, com uma crista de aço. O grito penetrante do primeiro bandido aniquilou o pesado murmúrio da floresta e os animais se dispersaram de seus refúgios em todas as direções. O segundo bandido foi completamente cortado, seu grito foi transformado em um suspiro antes que pudesse sair. Instantaneamente, o guerreiro fez uma pausa, respirando vagarosamente para acalmar seus batimentos, estudando a escuridão. Não havia outros. Ele limpou o sangue de sua lamina com um cuidadoso ritual e guardou-a, escutando enquanto o silencio retornava a ele.”

Existe uma expressão popular no meio das artes marciais que promete: “você vai lutar do jeito que treina”. A intenção deste sentimento é que se você não treinar para um certo cenário, você não estará pronto para ele. Então, se você quer estar pronto para um ataque de facas, você deve treinar defesa contra facas. Se você quer saber como lutar a partir do chão, você deve praticar lutando do chão. Você só precisa fazê-lo. Enquanto em essência isso é obviamente verdade, em alguns aspectos, é um conceito incompleto.
Muitas pessoas treinam para cenários reais de maneiras irreais. Se eu treino para me defender contra um ataque com armas espetando uma caneta na frente do martelo da arma do atacante ( ria se quiser- eu vi isso em uma revista de artes marciais), não importa o quanto eu treine esse movimento, a realidade é que essa estratégia é improvável de funcionar. Esse é um movimento extremamente preciso, requerendo uma insana coordenação motora fina que simplesmente não estará disponível em uma crise e é simplesmente e completamente ineficiente. Melhor jogar a caneta na cara do seu oponente e se esconder atrás de uma mesa. Eu acredito que seja melhor dizer:

Você vai lutar como você treina, não o que você treina.

Voce pode treinar técnicas de luta com facas o dia inteiro, mas se voce ficar fiel a coreografias tradicionais ou drills fixos que tenham pouco haver com movimentos aleatórios, com giros desordenados de um raivoso e acostumado lutador de rua, voce estará apenas treinando para ser proficiente em drills, não em combate. Como já observei que não existe nenhuma maneira de predizer como seu inimigo provavelmente irá atacá-lo, naturalmente não pode haver um método ou técnica que possam garantir sua sobrevivência. É por isso que o treino deve desenvolver adaptabilidade acima de tudo, mas antes de vasculharmos o treino de adaptabilidade, devemos também lembrar a realidade do ambiente para o qual vamos treinar. Nós nunca estaremos operando em um confortável ou conveniente estado físico ou mental. Admitindo isso, nós podemos aprender como melhorar nosso estado, como combater os efeitos do stress, e estratégias que vão funcionar mesmo quando estamos em pânico, finalmente, combate é caos e carrega com sigo uma enorme carga física e psicológica. Encontros violentos provocam profundas respostas emocionais que nos atingem em um nível primitivo. Isso pode incluir desordens psicológicas, doenças e mudanças comportamentais. Podem ainda penetrar nosso âmago profundamente e desafiar nossas crenças e valores.

Bruce Lee escreveu: “muito tempo é dedicado para a aquisição de técnicas e muito pouco para a preparação do individuo para a participação”. Enquanto no contexto de Lee, ele se referia mais a necessidade do condicionamento físico ao invés da memorização, o mesmo sentimento pode ser aplicado para a preparação psicológica também. O treinamento guerreiro tem sempre procurado preparar o individuo para as ramificações psicológicas da violência, mas através das eras, a abordagem da humanidade passou descontroladamente por um espectro completo do sucesso ao fracasso. É importante levar em consideração, que guerras e violência existem há milênios, mas tem se aprendido mais sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro humano nos últimos 25 anos que em toda a história da humanidade. Um samurai do século XVI pode ter tido um fantástico entendimento intuitivo sobre o stress de combate, mas ele não sabia exatamente como ou porque isso acontecia. O que ele não podia simplesmente compreender, ele explicava através de forças espirituais e divinas. Hoje em dia, temos uma explicação para esses efeitos e um monumental arquivo que tem implicações surpreendentes na preparação do guerreiro moderno. Só porque uma arte marcial vem de uma época e lugar aonde as pessoas estavam em guerra, isso não quer dizer que essa arte tem o método mais eficaz para nós hoje em dia. Nós nos desenvolvemos como espécie desde então. Nós não aderimos cegamente ao uso de bastões e lanças antigas para as guerras modernas, então porque devemos ser mais fiéis a antiquadas técnicas de mãos livres e preparação psicológica? Se voce pensar claramente nisso por um momento, voce vai perceber que não deveríamos. Nós precisamos nos adaptar. Lembre-se do exemplo que citei anteriormente sobre os Japoneses se manterem com a sua cultura da espada apesar do desenvolvimento das armas de fogo no resto do mundo. Por estarem geograficamente isolados, eles foram capazes de se manterem fixos por quase 200 anos, mas eventualmente as ondas da maré lavaram suas praias e eles não tiveram escolha. Ou eles se adaptavam a nova tecnologia ou seriam conquistados. Analogicamente, nós precisamos fazer uma faxina nas idéias arcaicas sobre o treino de defesa pessoal e incorporar os avanços nos diferentes campos, nos nossos treinos para nos ajudar a chegar em casa vivos.

Novas idéias sobre como os homens aprendem, pesquisas sobre instinto e reflexo, estudos sobre os efeitos e motivos da violência e os efeitos prejudiciais sobre nossa própria espécie, todos contribuíram para uma remodelação sobre o modo como os treinos são feitos para a nova realidade da violência. Uma das áreas que será de crucial interesse de estudo nesse manual, é a ciência de melhorar a performance sobre efeitos estressantes, que é conhecida como Treino de Inoculação de Stress (SIT- stress inoculation trainning). A Inoculação de Stress é baseada em uma moderna tecnologia na modificação do comportamento cognitivo, trabalho pioneiro de Donald Meichenbaum iniciado em 1977. O objetivo desse método era ajudar indivíduos a suportar as conseqüências à exposição ao stress e a usar isso no processo de preparação e otimização da performance quando expostos a novos fatores estressantes.

O Caminho do Ronin é baseado na abordagem em 3 passos da Inoculação de Stress de Meichenbaum. Nosso programa consiste em:

1º Passo – Educação: O primeiro passo para a preparação ao stress de combate é saber o que esperar. Isso começa com a discussão e esclarecimento das causas e impactos do stress para mostrar todo o papel que o stress tem em nossa performance. Iremos discutir a ciencia do medo e quais reações são potencialmente alteráveis e quais não. Esse entendimento irá nos ajudar a reconceitualizar ameaças como desafios a serem dominados ou evitados. Vamos ajustar nosso objetivo de treino pessoal, quebrando nossos “grandes fatores estressantes” em pedaços pequenos e ajustar esses objetivos em uma linha de treino.

2º Passo – Ensaio: o segundo passo do SIT é a fase de aquisição de habilidades. Aqui é onde vamos discutir um conjunto de habilidades específicas e copiar habilidades que tem se mostrado eficientes na aplicação, incluindo treinamento de relaxamento, exercícios de controle emocional, estratégias de resolução de problemas, métodos para desviar a atenção, habilidades de comunicação, e reestruturação cognitiva. Uma grande variedade de exercícios serão compartilhados com você para que sinta uma mudança imediata.

3º Passo – Aplicação: a fase final do Treinamento de Inoculação de Stress é para aplicar seu novo entendimento em um ambiente variável e resistente. Isso pode incluir ensaios comportamentais, jogo de personagens, criação de modelos, treino de visualização e claro, experimentação prática com outros parceiros. Nós também vamos discutir como evitar recaídas comportamentais, identificando sinais de aviso e situações de alto risco, a manutenção de técnicas para manter suas habilidades afinadas.

Treinamento de Inoculação de Stress tem apreciado um tremendo sucesso em terapias clínicas e tem rapidamente levado sua influencia à uma grande variedade de campos relacionados a performance, dos esportes a gestões empresariais. Apesar de ser um título moderno, considere por um momento um símbolo tradicional apresentado ao longo desse manual e que representa nosso estilo combativo. A roda de laminas:


Tradicionalmente, esse símbolo representava os três componentes essenciais do correto treino marcial: Mente, Corpo e Espírito. Eles não são “divisões” do treinamento que podem ser trabalhadas separadamente ou ignoradas como muitos fazem. Eles são 3 igualmente e essenciais pilares do treino que estão firmemente interconectadas entre si e no todo. Ao longo desse manual, vou mostrar que enquanto pode-se conseguir algumas vantagens com o treino de técnicas físicas, que aproveitando seus atributos físicos e espirituais também, você pode ter ganhos infinitamente mais vantajosos.

De uma perspectiva combativa, A Roda de Laminas está sempre em movimento. Ela representa adaptação constante. Permanecendo em movimento, ela também mantem um equilíbrio perfeito entre ações defensivas e ofensivas. Enquanto estamos na boca do caminho de treino que se abre diante de nós, A Roda de Laminas também pode ser vista como a representação de todo nosso método de treinamento e na inoculação de stress:

Ø Iniciando com a Mente, nós vemos a ênfase na educação e no entendimento no porque fazemos o que fazemos.
Ø Continuando ao Corpo, nós ensaiamos nossas ações e praticamos nossas habilidades para aumentarmos nossa confiança.
Ø Terminando no Espírito, nós aplicamos essas novas habilidades e realizamos o que aprendemos. Através desse processo nós fortificamos e acalmamos nosso espírito e aprendemos a abraçar esse desafio.

Como com todas as interpretações da Roda de Laminas, esses três componentes não são como passos que damos em nossa jornada uma única vez, nunca os dando novamente. Até certo ponto, são fases retornáveis de nosso ciclo continuo de crescimento. Nós vamos continuamente rever cada uma das fases das laminas em nossa jornada e em cada visita, traremos novas experiências e entendimentos a elas que nos fortalecerão como indivíduos. Com cada atuação, com cada aplicação física e teste de novas habilidades, nós voltaremos para a fase de Educação renovados, nossos conhecimentos refinados e enriquecidos pelas nossas experiências. Motivados e mais focados em nossos objetivos, nós ajustamos nossa abordagem, ajustamos nossos objetivos e começamos novamente. Através desse manual, eu farei um grande esforço para comprovar o supremo valor dessa abordagem para você, mostrando resultados tanto imediatos como de longo prazo que trarão mudanças duradouras que você merece e deseja, mas antes de começarmos, tentem os seguintes exercícios:

Exercício 3 – Entendendo a Inoculação de Stress

Pare um momento e considere os três estágios da Inoculação de Stress: Educação, Ensaio e Aplicação:

Ø Você acredita que se educando e entendendo “porque” você está fazendo o que está fazendo irá ajuda-ló a usar todo o poder de seu cérebro?
Ø Faz algum sentido para você, que quanto mais preciso e inteligentemente você pratique algo, melhor você será nessa atividade?
Ø Você acredita que a única maneira para você ter certeza se consegue fazer algo é tentando?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

I Seminário Internacional de Systema



Confirmadas as datas para o seminário com Maxim Franz. Dia 19 de novembro em São Paulo e dias 20, 21 e 22 em Santos. Inscrições pelo site www.artemarcialrussa.com.br, ou solicitem mais informações.
Sr. Maxim Franz

Maxim Franz nasceu na região montanhosa dos Urais na Rússia. Prestou serviço militar na Marinha, na Brigada de Fuzileiros, com suas primeiras operações como Sniper (atirador de elite) de 1988 – 1990. Uma vez que completou seu serviço militar, ele imigrou para o Canadá aonde vive desde 1998.

Max entrou para a Arte Marcial Russa no outono de 1998 e treinou diretamente com o co-fundador do Systema Vladimir Vasiliev. Ele é certificado para ensinar todos os aspectos do Systema, ensinando na Sede Central (Toronto - Canada). Também é instrutor das Unidades das Forças Especiais do Exército Canadense, Unidades Especiais de Respostas Táticas do México, Seminários Internacionais de Systema, etc. Em Toronto ministra aulas semanalmente, bem como a maioria das aulas de Vladimir quando ele esta fora conduzindo seminários ou outros eventos, além de ter iniciado as aulas de arte marcial russa para crianças na sede em Toronto. Quando questionado sobre sua área preferida no Systema ele declara que:

"Eu não tenho especialidade em qualquer área do Systema (nós tentamos ser indivíduos sinceros), mas eu gosto muito de Strikes (dar e receber socos)."

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Responsabilidade do Combate

Retirado do “O caminho do Ronin: guia de treinamento para defesa pessoal moderna”, de Kevin Secours, 2004

Capítulo 1 – RESPONSABILIDADE DO COMBATE

“O guerreiro se posicionou na clareira, onde o ondulante mar de grama encontrava o cinturão flamejante de nuvens no novo horizonte. Ele sacou sua lamina com perfeição, cortando o ar com um assobio, seus olhos fixos, o ar penetrando calmamente no profundo âmago de seu corpo. Com uma súbita energia, ele se precipitou a frente, golpeando com destreza o ar em uma sucessão feroz, cada golpe uma expressão completa de suas habilidades. Como uma onda do oceano, sua lamina levantava e caia, progressivamente, sem malícia ou dúvida. A resolução de sua vontade parecia parar com o próprio zumbido da natureza que estava ao seu redor. Então, com a consciência de volta a ele, embainhou sua espada cuidadosamente de volta a bainha e vagarosamente ajoelhou-se na grama alta, agradecido pelo alvorecer que estava diante dele.”

O combate é a essencia de toda a vida. Todos os dias de nossa existência nós lutamos para sobreviver. Nós travamos batalhas contra o stress, idade, fadiga e desejos. Nós trabalhamos para providenciar abrigo, comida e conforto. Nós competimos em nossos estudos, no trabalho e mesmo nas nossas atividades de lazer. Como indivíduos, nós estamos constantemente nos esforçando para ir para frente e para achar segurança e um significado em nossa existência no planeta. É por isso que digo que nascemos para sermos guerreiros.

Essas batalhas, pela sua natureza são imprevisíveis, um pano flutuante tecido parcialmente pelas nossas intenções, parcialmente pela resistência e intenções daqueles que se opõem a nós, temperado com medo, perdas e dor, e finalmente vetado e forjado pelo capricho da Mãe Natureza. No combate, assim como na vida, simplesmente não existem garantias, soluções definitivas, nem certezas absolutas. Ao contrário do que muitos marqueteiros tentam nos fazer crer, nenhum estilo, técnica, ou abordagem pode assegurar a ninguém a supremacia no campo de batalha, ou na sala de reuniões, não importa qual seja o desafio. Se algum estilo assim existisse, seria fácil de achá-lo – seria o estilo usado pelos guardas do imperador do universo e ele neutralizaria qualquer um que lutasse contra ele, mas acredito que todos nós podemos seguramente concordar que tal supremacia não existe. Existe porém uma coisa em comum em qualquer luta, uma certa verdade que pode ser encontrada em qualquer conflito ou contenda não importa aonde ela é travada: a que a violência, pela sua natureza, é imprevisível.

Através das eras, as tradições guerreiras vêm tendo uma variedade inebriante de abordagens para a prontidão de combate. Alguns tentaram ritualizar a violência para algo mais controlável, algo mais seguro, quase sempre com uma armação que fundia religião, preocupações estéticas ou valores culturais com sobrevivência. No seu livro ganhador de um Premio Pulitzer, “Armas, Germes e Aço”, o autor Jared Diamond, estudou a importância essencial da adaptabilidade para mudar e inovar no nível cultural. Um exemplo que ele deu foi o do Japão que se recusou a usar armas de fogo. Em 1543, dois aventureiros portugueses armados com rifles primitivos, trouxeram essa nova tecnologia para o Japão. Os japoneses ficaram tão entusiasmados com a arma que começaram a fabricar suas próprias armas imediatamente e em 1600 eles tinham melhorado tanto essa tecnologia, que passaram a ter armas melhores e em mais quantidade que qualquer outro país do mundo. Pense nisso por um momento. O grande interesse do país em guerras originou-se da sua poderosa sociedade de classes guerreiras, os samurais. O problema era que na base do modo de vida samurai, estava a espada. Mais do que somente uma arma, a espada japonesa mantinha um poderoso valor na distinção de classes e era um símbolo do espírito nacional japonês e sua força. Diamond escreve:

As batalhas japonesas tinham previamente envolvido combates individuais entre espadachins samurais, que se posicionavam em campo aberto, faziam discursos rituais, e só então tomavam orgulhosos em graciosos combates. Esse comportamento se tornava letal na presença de soldados-camponeses disparando sem classe nenhuma com suas armas. Ainda mais, armas eram uma invenção estrangeira e crescia o desprezo à elas como a outras coisas estrangeiras no Japão após 1600.”

Foi assim que o governo interviu para restringir e eventualmente eliminar a produção de armas. Incrivelmente, essa proibição durou por 200 anos! Dado o isolamento geográfico do Japão, eles foram capazes de aderir a uma estrutura social e combativa antiquada, enquanto o resto do mundo, forjava corajosamente afrente a melhoria das armas de fogo. Esse decreto ideológico foi primeiramente esmagado pela realidade do mundo em 1853, quando o Comodoro Perry, liderando uma poderosa armada americana, “convenceu” o Japão da necessidade de retomar a produção de armas se eles quisessem permanecer competitivos com as forças estrangeiras que já não poderiam ser seguradas na baía.

A História está cheia de exemplos do absoluto poder da adaptabilidade. Eurásia, durante a Idade Média é um exemplo oposto do fenômeno que acometeu o Japão durante o século XVII. Ali, os eruditos islâmicos beneficiados pela sua geografia, abraçavam as inovações vindas da Índia e China, que estavam prontas para eles. Além disso, eles herdaram o antigo conhecimento grego ao ponto de muitas das obras-primas gregas hoje conhecidas só se tornaram conhecidas através de cópias arábicas. Como escreve Diamond, enquanto a Europa se atrapalhava na Idade das Trevas, as sociedades Islâmicas no Oriente Médio faziam inovações com tecnologias de moinhos, criavam a trigonometria, faziam avanços na metalurgia e engenharia química, criavam métodos de irrigação. Eles adotaram o papel e a pólvora e continuaram em primeiro plano em avanços tecnológicos até meados de 1500, quando uma mudança na ideologia combinada com novas forças culturais causou uma grande mudança nessa maré.

Estes dois simples exemplos com finais opostos do espectro provam um simples fato: inovação e adaptabilidade são a essência para a sobrevivência. Novas tecnologias e conhecimento devem ser constantemente absorvidos, integradas e mantidas para prosperar. Por essa razão, muitos sistemas modernos de defesa-pessoal se desviaram das artes marciais tradicionais, criando híbridos que incorporaram as últimas estratégias combativas, avanços psicológicos, biomecânica, desempenho esportivo e uma multidão de outros fatores. Eles entenderam que o mundo está sob constante mudança. Como disse Heráclito: “você não pode pisar no mesmo rio duas vezes”. O Universo flui constantemente.

Exercício 1 – Siga o fluxo:

Imagine qualquer situação de defesa-pessoal. Quanto mais simples melhor. Algo básico como um empurrão ou uma pegada de pulso.

● visualize você resolvendo essa situação em todos os detalhes. Uma vez que voce tenha concluído a situação, reveja mentalmente a situação novamente. Perceba que mesmo nas suas próprias visualizações, enquanto se torna mais familiar com a sua situação, voce adiciona detalhes, embelezando a sua resposta, ás vezes até mesmo alterando a reação.

● agora, tente a aplicação do movimento. Pode ser uma técnica de defesa-pessoal com um parceiro ou um movimento sozinho, como uma flexão de braços ou um agachamento. Apesar de ser uma técnica intencional que voce quer fazer, note que vão ocorrer variações em cada repetição. Voce provavelmente nunca vai fazer duas flexões idênticas ou desferir dois socos idênticos. Quanto mais variações você adicionar em qualquer coisa que você faça, mais orgânico e original cada repetição vai naturalmente se tornar. Por exemplo, se você ficar socando enquanto anda para trás descendo um lance de escadas, você vai notar muitas variações em cada repetição.

Até mesmo esse simples exercício reafirma que o combate é caos. Estou cravando esse prego bem fundo porque é um tema muito importante. Independentemente de sua ideologia, não importa como você se prepare, no final, todo guerreiro precisa encarar a realidade que a violência carrega consigo um infinito número de variáveis. Uma vez que não existe uma maneira de prever como um inimigo vai atacar, não existe uma técnica ou um método que possa garantir a sobrevivência. A história tem nos mostrado, a chave é a adaptação.

Eu vou iniciar esse manual com uma simples crença que é, que cada um que ler esse manual tem crenças e valores diferentes, mas somos todos limitados por um mesmo, e fundamental objetivo- nós somos guerreiros que querem se preparar melhor para a realidade e pressão do combate e da vida em geral. É por isso que estamos lendo esse livro. Portanto, eu peço que você reafirme essa simples verdade:

Estar preparado para o stress de combate é sua responsabilidade. Ninguém fará isso por você. Existe ajuda e suporte disponíveis durante a sua preparação- esse manual certamente será como um mapa- mas no final, a obrigação de fazer essa escolha e seguir adiante, é somente sua. Como veremos nas próximas páginas, nem mesmo nossos instintos podem fazer essa tarefa por nós – me desculpe se estourei algumas bolhas, se alguns de vocês estavam esperando que seus instintos naturais te livrassem dessa.

Exercício 2 – Você está pronto para a mudança?:

Pegue um momento para você e faça as seguintes 3 perguntas. Isso é importante, então, por favor considere profundamente cada pergunta, uma de cada vez e esteja certo de suas respostas antes de continuar:

● você acredita que é possível mudar o seu comportamento e melhorar suas habilidades para defender-se em todos os aspectos de sua vida?
● se sim, você gostaria de melhorar as habilidades essenciais para defesa pessoal?
● se sim, quão logo você gostaria de sentir essas melhorias?
Se você respondeu algo diferente de:

Sim, você acredita que é possível mudar o seu comportamento e
Sim, você gostaria de melhorar suas habilidades de defesa pessoal e você está pronto para sentir essas melhorias logo ou agora....

...então, talvez esse manual não seja capaz de ajudá-lo. Primeiro você? Deve pegar um momento e determinar quais sãos seus reais objetivos e o que o motiva a se dedicar ao seu treinamento de defesa pessoal. No outro lado se você realmente acredita que é possível melhorar e mudar seu comportamento e você está pronto para sentir essas mudanças agora, então vou lhe mostrar como suas únicas limitações são suas expectativas.

Você tem em mãos um esquema para sua própria evolução nesse instante. Esteja preparado para a mudança.

“A menos que você de o seu melhor, um dia chegará quando, cansado e com fome, você irá se deter muito próximo da missão que lhe foi ordenada, e por se deter você terá tornado inútil o esforço e a morte de milhares.”
General George S. Patton


Artigo de Kewin Secours

Estou traduzindo e postando artigos de Kewin Secours. Instrutor de Systema em Montreal. Recebi autorização dele para que pudesse traduzi-los e posta-los no blog.
Grande abraço a todos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Aspectos filosóficos do Systema
Existe uma razão pela qual a Arte Marcial Russa é chamada de Systema. Ela é um conjunto completo de conceitos e componentes de treinamento que melhoram a vida de uma pessoa. Nesse caso, adquirir habilidades marciais é uma maneira de melhorar os sete sistemas fisiológicos do corpo e os três aspectos do ser humano, o físico, o psicológico e o espiritual.
O princípio central do Systema Russo é a não destruição. O objetivo é ter certeza que o seu treinamento e suas atitudes não causem danos ao corpo ou a mente, sua ou a de seus parceiros. Systema foi modelado para criar, construir e fortalecer o corpo, a mente, sua família e seu país.
Outra palavra para Systema é “poznai sebia” que significa “conheça você mesmo”. O que realmente quer dizer “conheça você mesmo”? Não é somente saber quais são suas forças e fraquezas, isso é bom, porém superficial. O treinamento das Artes Marciais Russas é um ótimo caminho para enxergarmos toda a extensão de nossas limitações- para vermos quão orgulhosos e fracos realmente somos. Systema permite que obtenhamos a verdadeira força de espírito que provem da humildade e clareia a nossa visão sobre os propósitos da vida.
As raízes do Systema estão ligadas a fé no Cristianismo ortodoxo Russo, que crê que tudo o que acontece a nós, bom ou mau, tem um único propósito. Que é, criar as melhores condições possíveis para que cada pessoa entenda a si mesmo. O treinamento apropriado tem o mesmo objetivo – colocar cada aluno em situações aonde ele possa perceber o máximo de si mesmo, e lidar com isso em quaisquer momentos.
Uma das primeiras frases de Mikhail Ryabko aos iniciantes é “seja uma boa pessoa e tudo o mais virá a você”. De uma maneira simples e compreensível, Systema ajuda você a escolher e seguir esse caminho.



Vladimir Vasiliev - Diretor e Instrutor Chefe da Escola de Toronto de Arte Marcial Russa.

Nascido em Tver, na Rússia, Vladimir estudou na Spetsinstitute em Moscou e recebeu uma formação intensa de Mikhail Ryabko. O trabalo de Vladimir abrange 10 anos de serviço militar extensivo com a Unidade de Operações Especiais (SPETSNAZ), incluindo missões regulares de alto risco e missões secretas. Ele também atuou como instrutor de pára-quedistas, equipes de swat, e guarda-costas de elite. Vladimir mudou para o Canadá, e em 1993 abriu a primeira escola de arte marcial russa na América do Norte. Desde então, ele pessoalmente,vem treinando e certificando mais de 300 instrutores qualificados em arte marcial russa em todo o mundo. Ele continua a oferecer treinamento nos fundamentos do Sistema, bem como o treinamento especializado para policiais, militares e outros funcionários governamentais.










Mikhail Ryabko - Coronel das Unidades de Operações Especiais das Forças Armadas russas, Instrutor Chefe do treinamento tático para o Emergency Response Team da MVD, Assessor do Ministro da Justiça da Rússia. Treinado desde a idade de cinco anos por um dos guarda-costas pessoais de Stalin, Mikhail foi alistado nas fileiras da Spetsnaz com 15 anos. Atualmente, seu papel é o de um comandante tático das equipes de resgate de reféns, operações anti-terroristas, e neutralização de criminosos armados. Mikhail reside em Moscou, onde ele é instrutor-chefe e apresentador do programa anual russo “Martial Arts Camp Program”, em Moscou. Ele continua a oferecer formação especializada em todos os aspectos do Systema através de aulas regulares, em Moscou e seminários em todo o mundo. Mikhail é também autor de diversas publicações, assim como um livro sobre as táticas de Spets Operações.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009


CNCTEMA - Arte Marcial Russa
As artes marciais da antiga Rússia foram forjadas no fogo da adversidade, sobre uma paisagem impiedosa de geografia e climas extremos. O ataque contínuo de invasores estrangeiros, sitiaram as suas fronteiras a partir do 6o século e provocou uma evolução das artes marciais. A partir desses encontros, os primeiros mestres russos sabiam que o combate era um estado de caos que trazia consigo uma infinidade de desafios e oportunidades. A maneira mais eficaz para preparar um guerreiro para sobreviver a esta adversidade, foi cultivar a sua adaptabilidade, criatividade e autonomia.
Como não havia maneira de prever como um inimigo poderia atacar, não poderiam haver técnicas ou um formulário único que garantiria a sobrevivência. A ausência de um exército formal para proteger o povo, reforçou a ênfase na capacidade de adaptação. Como guerreiros civis, os combatentes precisavam de uma arte que fosse rápida e fácil de aprender pois tinham suas obrigações diárias como agricultores, caçadores e comerciantes. Como resultado, foi dada ênfase aos movimentos naturais do corpo que podem ser aprendidas rapidamente. O objetivo do treinamento foi sempre o de melhorar a forma como o corpo se movia, melhorando a saúde e bem-estar geral, no processo, enquanto dominavam a arte de lutar.
A próxima grande evolução ocorreu em 1917 quando o governo comunista publicamente proibiu a prática de todas as artes marciais tradicionais, com a esperança de continuar destruindo as raízes do nacionalismo. Apesar de seus esforços no entanto, o governo não poderia negar a eficácia dos seus estilos de luta. Secretamente, eles trabalharam para mesclar as diversas tradições culturais em um híbrido simples e concentrado. No final, esta versão melhorada de suas artes marciais foram reservadas exclusivamente para as Spetsialnogo Voiska Naznachenia (Forças Especiais) ou "Spetsnaz". Foi neste cenário de aplicação no mundo real que a força das antigas tradições de luta da Rússia permaneceu viva e continuava a crescer. Na era moderna, essa arte foi revelada pela primeira vez fora da Rússia por Vladimir Vasiliev.